segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

IGREJA ANGLICANA ABRE INSCRIÇÕES PARA CURSO DE FORMAÇÃO DE EDUCADORES POPULARES

Com o objetivo de contribuir para o engajamento de agentes políticos comprometidos com as causas sociais e os direitos humanos, a Igreja Episcopal Anglicana abre inscrições para o ‘Curso de Formação de Educadores Populares na Amazônia’. Com duração de oito meses, o curso terá início no mês de março. As inscrições serão realizadas presencialmente no período de 27 de janeiro a 17 de fevereiro.

Serão disponibilizadas 30 vagas voltadas a lideranças populares, agentes pastorais e demais pessoas comprometidas com a justiça social, cultural, econômica e ambiental. Os módulos contemplam a formação teórica e a atuação prática em diversos bairros da região metropolitana de Belém, com monitoramento em várias comunidades, onde as atividades serão realizadas uma vez por mês.

O curso ocorrerá semanalmente aos sábados, no horário de 8h às 13h. O investimento é de R$ 20,0 mensais, incluindo o almoço. A taxa de inscrição é de R$ 50,00 e deve ser efetuada na Catedral Anglicana, localizada na Av. Serzedelo Corrêa, 514, entre Av. Gentil Bittencourt e Conselheiro Furtado.

Confira os módulos que serão ministrados:
- Apresentações e Grupalização
- Educação Popular e Participação Social
- Oficina sobre arte-educação
- Análise de Conjuntura
- Metodologia da Leitura Comunitária
- Ética Social
- Atores Sociais na Luta por Direitos
- Amazônia Brasileira e a Integração Regional
- A Luta dos Povos Indígenas na Amazônia
- O Racismo e as desigualdades sociais
- Relações de Gênero
- DHESCAS
- Diálogo Inter-Religioso
- Oficina sobre redes sociais e organização popular
- Oficina de Gestão e Elaboração de Projetos
- Planejamento Orçamentário
- Avaliação e Monitoramento do trabalho – como medir os resultados
- Elaborando os Projetos com os grupos
- Apresentação e avaliação dos projetos escritos

 Maiores informações: (91)3242-1929 / 3241-9720 / educadorespopularesamazonia@gmail.com


Fonte: Unipop

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Os Moravianos e as missões

Kenneth B. Mulholland
Wiiliam Carey é considerado o pai das missões Protestantes, primariamente pelo fato de ter ele fundado a Sociedade Missionária Batista. Tal sociedade teve seu início em 1792, 275 anos após Martinho Lutero ter afixado as Noventa e Cinco Teses à entrada da Igreja de Wittemberg em 1517. Essa sociedade foi um veículo Protestante para o envio de missionários ao mundo não Cristão. Carey, contudo, não inventou o movimento missionário Protestante. Ele construiu a plataforma da qual o movimento missionário Protestante tinha lançado, de uma série de pranchas cortadas durante séculos, entre Lutero e ele. Uma dessas pranchas foi o Pietismo, um movimento evangélico interdenominacional e internacional, que procurava revitalizar a igreja existente, através de pequenos grupos dedicados ao estudo da Bíblia, oração, responsabilidade mútua e missões. August Hermann Francke definiu a agenda do Pietismo em apenas doze palavras: “uma vida mudada, uma igreja reavivada, uma nação reformada, um mundo evangelizado”. O Pietismo primeiramente despertou uma visão missionária entre os protestantes, enviando missionários para a Índia e Groelândia.
Duas outras pranchas significativas na plataforma de Carey foram a Igreja Moraviana e os Puritanos. Os Moravianos foram os primeiros Protestantes a colocar em prática a idéia de que a evangelização dos perdidos é dever de toda a igreja, e não somente de uma sociedade ou de alguns indivíduos. Anteriormente, a responsabilidade pela evangelização havia sido lançada nos degraus dos governos, através das atividades colonizadoras deles. Os Moravianos, contudo, criam que as missões são responsabilidade de toda a igreja local. Paul Pierson, missiólogo, escreveu: “Os Moravianos se envolveram com o mundo de missões como uma igreja, isto é, toda a igreja se tornou uma sociedade missionária”. Devido ao seu profundo envolvimento, esse pequeno grupo ofereceu mais da metade dos missionários Protestantes que deixaram a Europa em todo o século XVIII.
De fato a história dos Moravianos antecede à Reforma. Conhecidos originalmente como os Unitas Fratrum, ou a Unidade dos Irmãos, esses cristãos Checos foram os seguidores do mártir John Huss, um Reformador antes da Reforma. Ele foi martirizado em 06 de julho de 1415, e os Moravianos honram sua morte no calendário deles ainda hoje.
Após a morte de Huss, seus seguidores, que foram muitas vezes conhecidos como Hussitas, ou como os Irmãos Boêmicos, experimentaram um verdadeiro ressurgimento. Eles se reorganizaram no ano de 1457, e no tempo da Reforma havia entre 150 a 200 mil membros em quatrocentas igrejas por toda a Europa Central. Mas, no levante das guerras dos 1600, a Boêmia e Morávia (Repúblia Checa) foram dominadas por um rei católico romano, o qual desencadeou uma terrível perseguição contra os Moravianos. Quinze de seus líderes foram decapitados. Os membros da igreja foram mandados para os calabouços e às minas para trabalhos forçados. As escolas deles foram fechadas. Bíblias, hinários, catecismos e escritos históricos foram totalmente queimados. Foram todos espalhados. De fato, 16 mil famílias repentinamente se tornaram refugiadas. Por quase cem anos procuravam fugir da perseguição. Por causa disso formaram uma poderosa rede de cristãos “clandestinos” através de pequenas células.
Anos mais tarde, em 1722, um pequeno grupo desses refugiados estava à procura de algum lugar onde pudesse se sentir seguro. Quando cruzaram a divisa da Alemanha, ouviram de um lugar conhecido como Herrnhut, uma pequena faixa de terra na propriedade de Nicholas Ludwig von Zinzendorf. Pediram se podiam ficar ali. Zinzendorf não estava no momento, mas o administrador lhes permitiu acampar-se no sítio.
Zinzendorf, um aristocrata, tivera ligações anteriores com o movimento Pietista. Seu padrinho fora Philip Spener. Quando tinha dez anos foi enviado para estudar em Halle, onde seu professor fora August Hermann Francke. No período que lá estivera, seu mentor foi Bartholomew Ziegenbalg , o primeiro missionário Protestante para a Ásia, que estava de férias (tipo de ano sabático).
Zinzendorf descreveu sua vida em Halle da seguinte maneira: “Encontros diários na casa do professor Francke; relatórios edificantes concernentes ao reino de Cristo; conversa com testemunhas da verdade em regiões longínquas; contato com diversos pregadores; luta dos primeiros exilados e prisioneiros. A satisfação daquele homem de Deus e a obra do Senhor juntamente com várias provações que o envolveram, fizeram crescer meu zelo pela causa do Senhor de uma maneira poderosa”.
Enquanto Zinzendorf esteve em Halle, foi um instrumento na formação da primeira sociedade missionária de estudantes Protestantes chamada de a “Ordem do Grão de Mostarda”. depois disso foi para Wittemberg para estudar Direito devido seus pais não aceitarem a idéia de ele se tornar um pregador. Quando concluiu o curso de Direito, fez uma grande viagem turística pela Europa, o que era comum para os membros da aristocracia daqueles dias. Como parte dessa viagem, foi a um museu de arte em Dusseldorf, Alemanha, e lá viu um quadro do “Cristo de Coroa de Espinho”, com a seguinte inscrição: “Eu fiz isto por ti; o que fazes tu por mim?”.
Isso lhe causou uma profunda impressão e o levou a escrever em seu diário: “Tenho amado-o por longo tempo, mas realmente nada tenho feito por ele. De agora em diante farei tudo que me seja dado fazer”. Voltou para Herrnhut para onde os refugiados Moravianos formaram uma comunidade com cerca de trezentos membros. Zinzendorf assumiu a responsabilidade, não apenas supervisionando como dono da terra onde viviam, mas sim para lhes servir de pastor. Em 1727 um derramar do Espírito de Deus uniu a comunidade.
Cinco anos mais tarde, em 1732, Zinzendorf foi convidado a assistir a coroação do rei Dinamarquês (ele estava ligado à família real na Dinamarca). Enquanto lá, descobriu o produto das missões Dinamarca-Halle: alguns convertidos Esquimós da Groelândia e uma pessoa convertida do Oeste da Índia, um primeiro escravo cujo nome era Anthony. Tais pessoas fizeram um apelo a Zinzendorf: “Você não pode fazer alguma coisa para nos enviar como missionários?”. Seu coração ficou muito quebrantado. Voltou para a comunidade e lançou diante dela o desafio para o envio de reforços missionários para Groelândia, Índia e outras partes do mundo onde pessoas não conheciam a Cristo. Vinte e seis pessoas imediatamente se ofereceram como voluntárias, e assim o Movimento Missionário Moraviano foi lançado. Nos vinte e oito anos seguintes mais do que duzentos missionários Moravianos entraram em mais de doze países para implantação de trabalho missionário em torno do mundo.
O trabalho dos Moravianos foi guiado por um número de características que os distinguiram. Primeiro, eram profundamente dedicados ao Senhor Jesus Cristo. Eram extremamente cristocêntricos. Numa certa ocasião, quando eu ministrava na Nicarágua, os cristãos Moravianos me deram uma placa de madeira com o selo de sua igreja. Traz um Cordeiro triunfante do livro de Apocalipse. Diz assim: “Nosso Cordeiro venceu; vamos segui-lo”. Os Moravianos pregavam Cristo. Zinzendorf aconselhava os missionários que saiam: “vocês devem ir direto ao ponto e falar-lhes a respeito da vida e da morte de Cristo”. Os missionários primitivos tinham o costume de elaborar provas da existência de Deus, como se estivessem dando palestras teológicas. Zinzendorf apelou aos missionários para que simplesmente lhes contassem a história de Jesus. Há inúmeros relatos de como aquela história despertou corações dormentes que foram trazidos ao Salvador; segundo, os Moravianos, diferentemente dos pietistas primitivos, não eram altamente educados nem teologicamente treinados. Eram comerciantes. De fato, os dois primeiros missionários que foram enviados eram coveiros por profissão! As próximas duas pessoas que enviaram, um era carpinteiro e o outro, oleiro. Os Moravianos abriram o ministério ao leigo e a ministração às mulheres, antecipando J. Hudson Taylor nessa questão mais de cem anos antes; terceiro, criaram a estratégia missionária de fazedores de tendas (o missionário trabalhar e se auto-sustentar no país). Muitas pessoas pensam que o sistema de fazedores de tendas é coisa recente. Mas, o movimento missionário Moraviano se baseava nisto. Além do mais, como pode uma vila de seiscentas pessoas sustentar duzentos missionários? Resposta: Eles trabalhavam para a sobrevivência. Zinzendorf dizia que trabalhar em fazenda e indústria prende muito as pessoas, mas o comércio lhes daria mais flexibilidade. Ele sentia que a prática de trabalho e o ensino que podiam dar nesta área não apenas levantaria o nível econômico do povo para onde eram os missionários enviados, mas também proveria meios de se fazer contato com aquela gente. O livro ‘Lucro para o Senhor`relata como os Moravianos usaram o fazer tendas como estratégia para o trabalho missionário em meados de 1700; quarto, os Moravianos foram a pessoas que viviam na periferia da sociedade. Devido aos Moravianos terem sido pessoas sofredoras, podiam facilmente se identificar com aqueles que sofriam. Eles iam àqueles que eram rejeitados por outros. Dificilmente qualquer missionário seria mandado para a costa leste de Honduras ou Nicarágua. Essas partes da América Central eram inóspitas. Lá, contudo, estavam os Moravianos. Isso era característico da vocação missionária deles; quinto, eles se dirigiam a pessoas receptivas. Devido ao fato dos Moravianos crerem ser o Espírito Santo ser o “Missionário” primário, aconselhavam seus missionários a “procurarem as primícias. Procurarem aquelas pessoas que o Espírito Santo já havia preparado, e trazer-lhes as boas novas ”; sexto, eles colocavam o crescimento do reino de Cristo acima de uma expansão denominacional. Zinzendorf não pretendia exportar as divisões denominacionais da Europa. Ele se tornou um pioneiro ecumênico (entre cristãos), no melhor sentido do termo, 150 anos antes de qualquer um imaginar tal possibilidade; sétimo, a obra missionária Moraviana era regada de oração. Quando o avivamento espiritual ocorreu em 1727, começaram uma vigília de virada de relógio, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, trezentos e sessenta e cinco dias por ano. O livro devocional conhecido como Lemas Diários, que ainda tem sido publicado pela Igreja Moraviana, era o devocional mais amplamente usado entre os cristãos europeus. O ministério Moraviano era fortemente regado por oração (tiveram uma vigília de oração que durou um tempo de 100 anos literalmente – nota do tradutor).
Os Moravianos tinham trabalho missionário no Estado da Geórgia devido ao General Oglethorpe ter sido influenciado por Zinzendorf, que fazia parte de um grupo missionário de estudantes que começou em Halle. Quando João Wesley viajou para os Estados Unidos, seu navio enfrentou uma terrível tempestade. Wesley ficou super abalado. Somente os Moravianos, que se mantinham num senso de paz com Deus, lhe encorajaram no pânico. Foram eles que lhe apresentaram a necessidade de um relacionamento pessoal com Cristo. Retornando para a Inglaterra, após um trabalho frustrado na Geórgia, disse: “fui para converter os índios, mas, quem, ó quem me converterá?” Ele foi para uma reunião num encontro de Aldersgate – um encontro dos Moravianos – durante o qual seu coração, segundo ele, foi “estranhamente aquecido” e assim encontrou segurança para a sua salvação. Foi para Herrnhut a fim de examinar o trabalho Moraviano, e, como resultado, ele padronizou a obra do Metodismo no modelo Moraviano. Assumiu como moto as palavras de Zinzendorf: “o mundo é minha paróquia”.
Os Moravianos também exerceram uma forte influência sobre William Carey, o qual teve grandes dificuldades em gerar sustento para a idéia de uma sociedade de missões. Aqui está um relato de como a fundação da sociedade missionária veio a acontecer. Numa noite, um pequeno grupo de 12 ministros e um leigo se reuniu com William Carey na espaçosa casa da viúva Wallace, conhecida por sua hospitalidade como a Hospedeira do Evangelho. Novamente, Carey fez pressão para a ação. Mas, novamente os irmãos oscilaram. Afinal, quem são esses homens? Ministros de Igrejas de pobres-feridos, para sustentar uma missão, tão assediadas de dificuldade, tão cheias de incertezas. No momento crucial, quando todas as esperanças pareciam se esvair, Carey tirou do bolso um livreto intitulado Periódico de Contos das Missões Moravianas. Com lágrimas nos olhos e com voz trêmula, afirmou: “se vocês apenas tivessem lido isto e soubessem como esses homens venceram todos os obstáculos por amor a Cristo, dariam um passo de fé”.
Foi a gota d’água! Os homens concordaram em agir. As atas da reunião registram a decisão deles de formar “A Sociedade Batista Particular para Propagação do Evangelho entre os pagãos”, também conhecida como a Sociedade Batista Missionária. Sua força repousa na motivação provida pelo relato dos missionários Moravianos.
Alguém, certa vez, perguntou a um Moraviano o que significa ser um Moraviano. Ele respondeu: “ser um Moraviano e promover a causa global de Cristo são a mesma coisa”.
(Artigo: The Moravians and Missions: de Kenneth B. Mulholland – Professor de Missões e Estudos Ministeriais, do departamento de Missões do Seminário de Columbia, Carolina do Sul. Fonte: Bibliotheca Sacra, Abril de 1999 – Tradução do Rev. José João de Paula – secretário da APMT).
Revista Alcance – 3º Trim. 2003

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Mais uma visita ao Gente livre


No dia 8 de dezembro a equipe do Nação Belém foi a mais uma missão no Centro Terapêutico Gente Livre em salinas que faz trabalhos com dependentes químicos.


Ministramos a palavra, teatro e brincadeiras, alem de visitar aqueles que o Nação Belém colocou lá dentro.


O dias terminou com todos ganhando um presente. Quero agradecer a todos do Nação Belém que se empenharam nesta missão.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

O STF decidiu que assassinato até os 3 meses de gestação NÃO É CRIME!



Hoje o STF decidiu que assassinato até os 3 meses de gestação NÃO É CRIME!

Quem deveria decidir isso é o Poder Legislativo! Mais um absurdo em nosso país!

A esquerda luta há anos no Brasil para legalizar o aborto, porém não aceita a ideia de um plebiscito, pois sabe que a grande maioria da população é contra!

Esta é a democracia em que vivemos!

Na foto abaixo temos a réplica de um feto aos 3 meses de gestação. Neste período já é possível escutar os batimentos cardíacos através de uma ecografia.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Missão Eted Ribeirinhos concluída com sucesso...


Realmente foi um tempo de ser #LimpoPelaPalavraQuero agradecer de todo o meu coração pela vida dos meus pastores Rodrygo e Thati que me apoiaram nesse tempo, vocês são presente de Deus em minha vida, muito obrigado por estarem comigo nesse período, e caminharem ao meu lado... Obrigado tb toda família Nação Belém...

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Para que serve a capelania hospitalar?


Desde os primórdios da humanidade o adoecimento, as alterações comportamentais graves, o sofrimento e a morte foram associados a atuação de forças sobrenaturais. Com o passar dos séculos, as observações casuais e as primeiras explicações de base mítica, mágica e religiosa passaram a conviver com a busca racional de compreensão de causas materiais e relações do sofrimento com o mundo concreto. Mas, a dimensão subjetiva e religiosa sempre manteve sua força explicativa, de alguma forma. 

Em Alexandria (100 a.C..- 100 d.C.), os primeiros terapeutas do deserto perceberam e ensinaram que o adoecimento e o sofrimento acontecem na integralidade da pessoa, uma unidade corpórea e anímica. Não se deveria tratar só do corpo; a alma (psiché) exige ser escutada. No ocidente, vinte séculos depois, a medicina, a psicologia, a psicanálise e as ciências sociais, por meio de pesquisas de campo, laboratórios e a recente neurociência tem enriquecido e ampliado o conhecimento sobre a complexidade envolvida no binômio saúde-enfermidade. Notadamente nos primeiros anos deste século XXI, em fóruns de psiquiatria, medicina, psicologia e antropologia, consolidou-se o reconhecimento sobre a multidimensionalidade da resposta às enfermidades e ao sofrimento requerendo que os pacientes recebam atenção holística. Pois o adoecimento, e a saúde, é fenômeno bio-psiquico-socio-espiritual.

Nos Estados Unidos e Inglaterra há décadas se reconhece que esta multidimensionalidade do humano requer atenção especial. E, as várias correntes de psicoterapia reforçam a necessidade da escuta e cuidado do emocional das pessoas. É também uma questão de direito humano do paciente e de seus familiares poder ressignificar suas experiências à luz de valores que lhes são constitutivos. Aí surge a figura do capelão e das instituições de capelania em hospitais, nas forças armadas e nas escolas. Nos EUA, capelães são pessoas relacionadas com uma confissão de fé, com graduação superior, que receberam capacitação acadêmica e técnica especializada, e iniciam seus trabalhos sob supervisão de médicos, psicólogos, psiquiatras e teólogos.

No Brasil, aos poucos tem se construído uma cultura hospitalar que reconhece a contribuição do agente religioso. Sendo nossa população majoritariamente composta por confessantes de alguma fé, não se concebe a exclusão do fator espiritual na estratégia clinica, visando o suporte emocional e afetivo da pessoa enferma e de seus familiares. Isto é especialmente relevante no caso de pessoas com deficiências, nos pacientes crônicos e terminais.

Uma das responsabilidades mais nobres da/do capelã/ão é a da escuta dos medos e angústias do enfermo, acolher suas palavras e custodiá-las, como algo sagrado. Isto requer uma delicada habilidade relacional, perícia técnica, empatia e respeito para com a intimidade do/da sofrente. Assim, servindo de ponte entre este/a e familiares, o corpo médico e de enfermagem pode tornar menos ameaçadora a realidade e facilitar a descoberta de sentido neste ponto do ciclo vital. O/a capelão/ã é também um defensor dos direitos do paciente junto às instituições e ao corpo médico para que receba tratamento com dignidade e não seja tratado como coisa, mercadoria, um numero estatístico ou um corpo a ser manipulado.

E, para além das situações individuais, existem as ocorrências que afetam um coletivo. Nas situações disruptivas em meio a desastres naturais ou tecnológicos, trabalhando em contextos desorganizados e emergenciais, a figura do sacerdote ou do capelão é de vital importância para assegurar um sentido e reassegurar uma ligação com as raízes culturais e espirituais dos que estão sob risco. Uma contribuição excepcional para o reforço da resiliência psíquica dos afetados, sejam indivíduos, famílias ou uma comunidade. Em países avançados reconhece-se a importância do atendimento às necessidades espirituais das populações; daí que capelães constituem uma reserva humana especial para atuação psicossocial em apoio a socorristas e vítimas, interagindo com as forças de segurança, igrejas, equipes de saúde e escolas. Seu papel continua além da crise disruptiva, caminhando com a comunidade no processamento de suas experiências de perda e luto, até que esta retorne a uma rotina suportável. 

É neste contexto que dou as boas vindas ao livro Capelania Hospitalar e Ética do Cuidado, de Maria Luiza Ruckert. Seguramente poderá se tornar uma referência obrigatória para a formação de gerações de agentes psicossociais e capelães da saúde. 

Ageu Heringer Lisboa, psicólogo e mestre em Ciências da religião, é membro fundador do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos e Eirene do Brasil. 

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Dia 31 de outubro não é dia das bruxas, é dia da Reforma Protestante!

Depois das trevas, luz.



Há 499 anos atrás, no dia 31/10/1517 um monge agostiniano chamado Martinho Lutero lê, a luz de velas:


"Por que nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé como está escrito: mas o justo viverá pela fé" 

Começando assim a Grande Reforma Protestante que foi fundamentada nas 95 teses afixadas na porta da igreja do castelo de Wittenberg e nas 5 Solas da Reforma, sendo elas:

SOLA GRATIA   "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se gloria". Ef 2.8 e 9

SOLA FIDE  "Por que nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé como está escrito :mas o justo viverá pela fé" Rm 1:17

SOLA SCRIPTURA  "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra". 2Tm 3:16-17

SOLUS CHRISTUS  "E não há salvação em nenhum outro: porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dentre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" At 4.12.

SOLI DEO GLÓRIA  A igreja romana ensinava e exigia uma devoção ao clero e aos homens santos que poderiam interferir diante de Deus para perdão de pecados e obtenção de bênçãos para os homens.

Quando se estava na presença do papa e dos cardeais a reverência deveria ser tamanha, beirando as raias de adoração, onde se demonstraria uma total submissão a estes.

Fundamentado nas Escrituras Ef 2. 1-10; Jo 4.24; Sl 90.2; Tg 1.17 e tantos outros textos, os Reformadores concluem que somente a Deus devemos dar glória.

Não podemos dispensar glórias a homens, pois não passam de míseros pecadores e são como trapos imundos e carecem da misericórdia e da gloria de Deus.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Sola Fide – Somente a fé (Serie Reforma Protestante)

Texto básico: Habacuque 2.1-4
Leitura diária
D – Tg 1.19-27 – A fé em ação
S – Rm 6.23 – O que realmente merecemos
T – Sl 103.1-22 – Não segundo os nossos pecados
Q – Ef 2.1-10 – Pela graça mediante a fé
Q – Rm 1.16-17 – A salvação do que crê
S – Is 1.10-20 – A fé secularizada
S – Ap 2.1-7 – A igreja secularizada

Introdução

Sola fide é uma das bandeiras defendidas pela teologia reformada desde seu nascedouro. Todos os reformadores se levantaram vigorosamente contra a doutrina da salvação pelas obras, ou pelos méritos, ou da colaboração com Deus na salvação. Todos eles, desde o início de seu ministério reformado, afirmaram que a fé é o único instrumento que Deus nos dá para nos apossarmos da salvação que ele concede graciosamente. Mas essa não foi a única frente na qual os reformadores tiveram que defender a doutrina da fé. Eles também tiveram que sustentá-la em oposição ao formalismo religioso e à secularização da fé.

I. Pela fé, não pelas obras

Muitas doutrinas sustentadas pela igreja romana estavam em aberto desacordo com o ensino da Escritura e houve muita controvérsia sobre muitos temas importantíssimos para a teologia cristã. No entanto, o estopim da Reforma está diretamente relacionado à forma como nos apropriamos da salvação. Na lição passada, vimos uma das formas pelas quais a pessoa podia se apropriar da salvação, segundo a crença romana: pelas indulgências. Também vimos que essa crença não se harmoniza com o ensino bíblico sobre a salvação, motivo pelo qual os reformadores fizeram questão de sustentar: sola gratia. A salvação é somente pela graça.
Havia, porém, uma forte doutrina romana que afirmava que a salvação era obtida por merecimento. Na medida em que a pessoa ia acumulando mérito diante de Deus, sua salvação ia ficando mais próxima. Mesmo que a pessoa não tivesse mérito suficiente para obter a salvação, esse mérito seria levado em conta para abreviar sua passagem pelo purgatório. O modo como o merecimento aumentava era pela prática de boas obras. Entre essas obras estavam as ações de caridade e a piedade religiosa.
  • As ações de caridade
Não há dúvida de que a ação em favor do necessitado é uma parte importante da religião cristã (Tg 1.27; 1Jo 3.17). A teologia reformada não negligencia a importância do socorro ao necessitado e entende que não prestar esse socorro seria negligenciar o claro ensino da Escritura. No entanto, ela rejeita a associação desse dever cristão com a aquisição da salvação.
  • A piedade religiosa
Outra forma de boa obra é a piedade religiosa: frequência às atividades da igreja, prática de orações diárias, devoção aos santos, ajuda ao sacerdote e envolvimento com o calendário eclesiástico, etc. A intensidade e a frequência com que uma pessoa expressa sua religião era vista como um meio de se obter a salvação. A teologia reformada defende o compromisso do cristão com a comunidade cristã da qual faz parte e ensina a importância do cumprimento dos deveres cristãos. No entanto, entende que atribuir valor salvífico a isso é ir longe demais.
  • Salvos pela graça mediante a fé
Contra a doutrina da salvação pelo mérito, a teologia reformada afirma que somos salvos pela graça mediante a fé. Nenhum de nós tem méritos para barganhar com Deus. Somos todos pecadores e, por isso, tudo o que merecemos é a morte, que é o salário devido ao nosso pecado (Rm 6.23). É uma grande bênção o fato de que Deus “não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades” (Sl 103.10).
Mas se não somos salvos pelas indulgências (como vimos na lição anterior), nem pela prática da caridade, nem pela piedade religiosa, nem por qualquer mérito que porventura pudermos imaginar ter, como nos apropriamos da salvação oferecida por Deus? Pela fé (cf. Ef 2.8; Rm 1.17).
É pela fé que nos apropriamos do sacrifício que Jesus realizou na cruz em nosso lugar. A salvação é concedida graciosamente a todo aquele que crê (Jo 3.16).Quando entendemos que não temos mérito nenhum diante de Deus, que tudo o que fazemos sempre será manchado pelo pecado e que somos incapazes, por nós mesmos, de obter nossa salvação, nos refugiamos em Deus e encontramos abrigo seguro. O Catecismo Menor de Westminster (1647) na questão 86, assim define: “Fé em Jesus Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele para a salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho”.

II. Muito mais do que o formalismo

Outra controvérsia a respeito da fé se refere à própria natureza da fé. É comum as pessoas imaginarem que fé e formalismo religioso são a mesma coisa. Esse erro foi cometido na Idade Média, quando as pessoas viam um homem frequente aos trabalhos da igreja e zeloso no cumprimento de seus deveres religiosos e imaginavam: “Aí está um homem de fé”. No entanto, por mais importante que seja o zelo religioso, a fé é muito mais do que isso. Não devemos desprezar o valor da participação nos cultos e no cumprimento dos deveres religiosos, mas viver pela fé é muito mais do que a prática de atitudes religiosas. Viver pela fé é viver em obediência a palavra do Senhor, é ter comunhão com Deus, é zelar pela vida cristã, é ter motivos e objetivos nobres aos olhos do Senhor.
O que é mais triste nessa história é que esse erro não foi cometido somente na Idade Média. Ele é cometido hoje, inclusive entre os protestantes. Viver pela fé é muito mais do que vestir uma roupa bonita para participar de um culto, muito mais do que se esforçar para estar presente em inúmeras atividades eclesiásticas, muito mais do que levantar a mão e gritar aleluia. Viver pela fé é refletir a luz de Cristo neste mundo mal e confuso em que vivemos, é dar um testemunho fiel de Jesus Cristo, é demonstrar ao mundo, externamente, a mudança que o Espírito Santo realizou dentro de você e a diferença que Cristo faz na sua vida.

III. A fé secularizada

Outro problema com o qual nos deparamos atualmente é o da secularização da fé. Esse é o nome que se dá à fé que é de tal modo influenciada pelos valores e posturas deste mundo caído que acaba ficando irreconhecível. O fenômeno da secularização da fé se apresenta em duas formas distintas: o formalismo religioso e o ateísmo cristão.
  • O formalismo religioso
Nesta forma de secularização, os aspectos externos da prática religiosa são preservados, mas seu conteúdo espiritual é esvaziado. A pessoa continua frequentando os trabalhos da igreja, mantendo suas amizades evangélicas e todo um aspecto de piedade, mas seu coração está vazio e longe de Deus.
A Escritura menciona vários casos desse tipo, mas há dois que são emblemáticos. O primeiro, que já fizemos breve menção, é quando Deus condena o formalismo religioso vazio dos judeus no tempo do profeta Isaías: “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? – diz o Senhor. Estou farto de holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os maus átrios?” (Is 1.11-12). O povo mantinha sua prática religiosa, mas todo o seu conteúdo espiritual havia se perdido. Suas ofertas tinham se tornado vãs, suas orações não eram ouvidas pelo Senhor e seu culto causava desprazer em Deus.
O segundo é quando o Cristo glorificado, na visão do Apocalipse, dita a carta à igreja de Éfeso: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor”. O vigor espiritual dos crentes de Éfeso não era mais o mesmo. Essa igreja tinha sido muito privilegiada: Paulo visitou essa cidade (At 18.19-21) em sua segunda viagem missionária. Ele deixou ali Priscila e Áquila para que cuidassem da igreja (At 18.19). Apolo também esteve ali (At 18.25). Em sua terceira viagem missionária, Paulo permaneceu três anos em Éfeso (At 20.31) e se tornou muito amigo dos presbíteros daquela igreja. Ao retornar para Jerusalém, sabendo que não mais os veria, despediu-se deles com um discurso comovente (At 20.17-38). Mais tarde, já preso em Roma, escreveu sua carta aos Efésios. Por orientação do próprio Paulo, Timóteo se instalou em Éfeso para cuidar da igreja (1Tm 1.3) e, mais tarde, por volta do ano 66 d.C., o próprio João esteve em Éfeso e pastoreou aquela igreja.
A igreja de Éfeso foi muito abençoada. Ela foi pastoreada por nada menos que dois apóstolos e quatro evangelistas de grande influência. Que grande privilégio. No entanto, quando João, preso na ilha de Patmos, escreveu a carta à igreja de Éfeso (Ap 2.1-7), pelo menos 30 anos já tinham se passado desde a chegada de Paulo ali. Os primeiros convertidos já tinham uma boa jornada cristã e uma nova geração de crentes havia surgido. Os primeiros cristãos de Éfeso tinham sido edificados na fé e tinham cumprido seu papel de candeeiros do mundo, apresentando seu Senhor a uma nova geração, mas essa nova geração não tinha o mesmo vigor espiritual da primeira. A fé estava em perigo. Porém, tanto para os judeus do tempo de Isaías quanto para os crentes de Éfeso havia uma esperança: arrependimento e fé.
  • O ateísmo cristão
A segunda forma pela qual o fenômeno da secularização da fé pode ser percebido é por meio do que podemos chamar de ateísmo cristão. Se no formalismo os aspectos externos da fé podiam ser vistos, no ateísmo cristão nem mesmo esses aspectos externos podem ser vistos com facilidade. Não há mais frequência regular aos cultos, apenas visitas esporádicas totalmente desprovidas de compromisso com a causa do evangelho (ou nem isso); o comportamento social em nada difere do comportamento de um não regenerado e a Bíblia se transformou em amuleto cuidadosamente guardado no fundo de uma gaveta, de onde só sai em momentos de crise, para ser agarrada e beijada de modo supersticioso, geralmente com lágrimas.
Para as duas situações, a teologia reformada apresenta mais uma bandeira dos reformadores: sola fide. Só a fé. Devemos, nos lembrar, contudo, que não há mérito humano na fé. A fé é graça que se materializa em obediência a Deus.

Conclusão

Secularização da fé, formalismo religioso, salvação pelas obras. Nada disso pertence à natureza da fé, da salvação e da vida cristã. A teologia reformada, com sua ênfase na doutrina da fé, convida a igreja de Cristo a olhar para além das circunstâncias religiosas em que vive e manter com Cristo, pela fé, uma doce e estreita comunhão que produz vida eterna e abundante.

Aplicação

Você consegue explicar com suas palavras o que é a secularização da fé? Consegue identificar pelo menos cinco caminhos pelos quais essa secularização penetra na igreja e abate o vigor espiritual dos cristãos?

Boa leitura

A Editora Cultura Cristã publicou bons livros sobre o tema: O Evangelho daGraça, James M. Boice, Verdades do Evangelho x Mentiras pagãs, Peter Jones, Interpretando o Novo Testamento: Tiago, Augustus N. Lopes, Justificação pela fé Somente, John MacArthur Jr. e outros autores.
>> Autor do estudo: Vagner Barbosa
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, usado com permissão.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Solus Christus – Somente Cristo (Serie Reforma Protestante)

Texto Básico: Atos 4.5-22
Leitura diária
D – Rm 8.31-39 – Cristo intercede por nós
S – 1Tm 2.1-7 – O único Mediador
T – Hb 7.20-28 – Cristo, sacerdote perfeito
Q – Mt 7.7-12 – Cristo, o Mestre
Q – Gl 6.1-5 – Levando as cargas
S – Jo 15.1-27 – A videira e os ramos
S – Cl 1.13-23 – A preeminência de Cristo

Introdução

Ao longo da história cristã, é comum encontrarmos várias modalidades de “Cristo mais alguma coisa”. O ensino bíblico é muito claro: nossa salvação depende inteiramente da obra de Cristo realizada em nosso lugar. Ele foi nosso substituto, recebeu uma morte que era nossa para que, por ele, tivéssemos vida em seu nome. Mas a natureza humana não se sente muito confortável em ter de depender de alguém, não é verdade? É por esse desejo humano de autonomia que a história cristã vem registrando a criatividade humana em acrescentar alguma coisa (algo feito pelo ser humano para que ele tenha uma participação “razoável” em sua própria salvação) à pessoa e obra de Cristo. Na lição de hoje, veremos três dessas coisas: as penitências, o dízimo e as atividades eclesiásticas.

I. Cristo mais as penitências

A doutrina romana das penitências foi uma das maneiras pelas quais a supremacia de Cristo na salvação era obscurecida. De acordo com essa doutrina, o batismo expia os pecados cometidos até o momento em que a pessoa é batizada. Para alcançar expiação pelos pecados cometidos após o batismo a pessoa precisa praticar atos de penitência. Deste modo, a penitência é um sacramento cujo objetivo é mitigar a culpa do pecador.
Segundo essa doutrina, há quatro graus de penitência. O primeiro é o “pranto” às portas do templo, no qual o pecador roga com lágrimas aos que entram que orem por ele. O segundo grau é “ouvir” a palavra divina na entrada da igreja, de onde a pessoa devia se retirar logo que as orações começavam a ser feitas. Durante as orações, o penitente não podia ficar presente. O terceiro grau era a “prostração” no fundo da igreja, onde o penitente ficava na companhia dos novos convertidos e era obrigado a sair com eles, antes da ministração dos sacramentos. O quarto grau era “estar junto”. Nessa fase, o penitente tinha permissão para ficar junto com os demais cristãos e não era mais obrigado a sair com os novos convertidos. Com o tempo, o penitente recebia permissão para participar dos sacramentos. No “estar junto” o penitente podia participar da oração e, mais tarde, também dos sacramentos.
Esse elaborado sistema penitencial era usado para manter a disciplina na igreja e para expiar, mesmo que parcialmente, os pecados cometidos depois do batismo. O problema é que, se os pecados são parcialmente expiados pelos atos penitenciais, então Cristo expia apenas uma parte dos pecados e, consequentemente, concede apenas uma parte da salvação, sendo a outra parte uma obra humana. Assim, a salvação seria resultado de um trabalho em conjunto realizado por Deus, em Cristo, e o ser humano, em seu zelo por se penitenciar e expiar, ainda que parcialmente, seus próprios pecados.
A teologia reformada insiste que a salvação não é uma obra realizada em parte por Jesus e em parte pelo pecador. A salvação e tudo o que está diretamente ligado a ela (como o perdão de pecados, por exemplo) é obra exclusiva de Deus.
Pedro é claro ao afirmar: “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.11-12).
Deus não tem colaboradores na salvação. A salvação é uma obra realizada exclusivamente por ele. Associar a ela qualquer esforço ou mérito humano é depreciar o sacrifício perfeito de Jesus Cristo, realizado de uma vez por todas em favor de todo aquele que crê. Contra a doutrina da colaboração humana na salvação, a teologia reformada grita a plenos pulmões: Cristo! Cristo! Só Cristo!

II. Cristo mais o dízimo

Na lição 3, que trata da graça de Deus em oposição aos méritos humanos, já tratamos das indulgências. No entanto, a comercialização da fé e da salvação, infelizmente, não é um fenômeno que ficou restrito à Idade Média nem à prática romana. Isso acontece hoje, especialmente dentro de muitas igrejas evangélicas, nas quais o evangelho é oferecido por dinheiro e a salvação é trocada por dízimos e ofertas.
É triste e vergonhoso perceber como a prática romana das indulgências não apenas entrou, mas foi aperfeiçoada no meio evangélico. Os vendedores de indulgências da Idade Média trocavam a salvação ou a redução das penas no purgatório por dinheiro. Os modernos comerciantes da fé vendem não apenas a salvação (sobre a qual pouco se fala nos cultos voltados à prosperidade, mais interessados nas bênçãos terrenas), mas também relíquias “poderosas”, como fios de barba dos apóstolos, o manto de Elias (esse profeta devia ter muitos mantos, pois são vendidos em toda parte), pedaços da arca de Noé, da arca da aliança e até da cruz de Cristo.
Engana-se quem pensa que esse é o ponto mais alto a que pode chegar a criatividade humana. Insatisfeitos com a venda da salvação e de relíquias religiosas, os mercadores da fé começaram a vender até mesmo orações e visitas a enfermos e idosos.
O que é mais alarmante em tudo isso é que muitos cristãos não percebem o quanto isso fere a supremacia da obra de Cristo. O poder cristão não vem de relíquias de qualquer espécie, mas de Cristo, que é o Senhor e cabeça da igreja. É somente quando permanecemos ligados à videira que obtemos a seiva que nos alimenta e revigora. Somente quando estamos ligados à videira podemos dar fruto. Esse é o ensino do próprio Jesus (Jo 15.5).
O mesmo acontece com a venda de orações. Jesus é quem intercede por nós (Rm 8.34). Ele é o único Mediador entre nós e Deus (1Tm 2.5) e, como nosso sumo sacerdote eterno, vive sempre para interceder por nós (Hb 7.25). É ele mesmo quem ensina: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á” (Mt 7.7). E, certamente, quando Paulo orientou os crentes gálatas a levar as cargas uns dos outros (Gl 6.2), esperava que isso fosse feito gratuitamente.
Contra a comercialização da fé, da salvação, das orações e das relíquias, a teologia reformada afirma: Cristo! Cristo! Só Cristo!

III. Cristo mais a participação nas atividades eclesiásticas

Há uma forma sutil de acrescentar um adereço à pessoa e obra de Cristo: a participação nas atividades eclesiásticas.
É correto e bom participar dos cultos. Isso deve ser encorajado em todas as igrejas: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns;” (Hb 10.25). Quando participamos do culto público, Deus fala conosco nos cânticos, na leitura da Palavra e na pregação. Somos edificados e consolados quando adoramos a Deus pela mediação de seu Filho por tudo o que ele é, fez e fará por nós.
Algumas igrejas têm outros tipos de reunião: reuniões de mocidade, de senhoras, de crianças, trabalhos sociais, etc. Participar de tudo isso é uma grande bênção, especialmente daquelas atividades em que podemos colocar em prática a capacitação espiritual que recebemos de Deus para o trabalho na sua obra. Além disso, somos cristãos e precisamos participar da vida da igreja. Somos um corpo cujo cabeça é Cristo e precisamos adorá-lo como indivíduos e como corpo, como comunidade de fé.
É claro que os cristãos devem ter prazer nos cultos, sabendo que esse é um momento especial de comunhão com Deus. O problema surge quando reduzimos a vida cristã à participação em uma enxurrada de atividades eclesiásticas. Vida cristã não é o mesmo que participação em atividades eclesiásticas diárias. Vida cristã é comunhão com Deus pela mediação de Cristo.
Além dessa concepção equivocada de vida cristã, a ênfase exagerada que muitos líderes costumam dar à participação descontrolada em atividades eclesiásticas acaba produzindo dois resultados colaterais muito negativos.
O primeiro é ocupar o único horário que muitos irmãos têm para descansar da labuta diária. Muitos irmãos trabalham o dia todo e chegam em casa exaustos. Reservar uma noite por semana para participar de um culto não faria mal. No entanto, reservar todas as noites para participar de atividades eclesiásticas é algo que poderá trazer, cedo ou tarde, resultados danosos à sua saúde. Lembre-se de que cuidar da saúde faz parte da mordomia cristã. Além disso, esse é justamente o único momento que muitos irmãos têm para manter a convivência familiar. Os membros da família saem cedo de casa, passam o dia todo fora, trabalhando ou estudando, e só se encontram à noite. O que acontecerá, em médio prazo, se eles forem privados desse convívio familiar?
O segundo é ainda pior que o primeiro, pois envolve o ensino bíblico da suficiência de Cristo para a salvação. Devido à grande ênfase dada à participação em atividades eclesiásticas, muitos cristãos assimilam a ideia de que estar presente ao maior número possível de atividades é algo que está diretamente associado à salvação. Isso está errado. Ninguém é salvo por participar de atividades eclesiásticas, mas por ter Cristo como seu Salvador pessoal.
A essa ênfase exagerada na necessidade de participação em atividades eclesiásticas, a teologia reformada afirma: Cristo! Cristo! Só Cristo!

Conclusão

Cristo mais isso, Cristo mais aquilo. Os diversos “apêndices” que o ser humano acrescenta a Cristo não mudam a realidade: somos inteiramente dependentes de Jesus para nossa salvação. Nada há que possamos fazer para obtê-la e só a recebemos porque Cristo fez por nós tudo o que era necessário. Até mesmo a fé com que nos apropriamos dessa salvação é fruto da sua graça. Somos inteiramente dependentes dele. Para salientar em nosso coração essa dependência, a teologia reformada sempre afirmou, com muito vigor: Só Cristo!

Aplicação

Em que você tem colocado o seu coração? Em Cristo ou em algum dos “apêndices” modernos? Examine agora a sua fé e veja em que você tem crido para sua salvação. Se for em algum “apêndice” ou mesmo em “Cristo mais alguma coisa”, livre-se disso e creia somente em Jesus Cristo para sua salvação.

Boa leitura

Por que Cristo sofreu e morreu? O assunto central na morte de Jesus não é a sua causa, mas seu significado – o significado de Deus. John Piper trata desse tema em A Paixão de Cristo, publicado pela Editora Cultura Cristã. Ele reuniu cinquenta razões retiradas do Novo Testamento. Não cinquenta causas, mas cinquenta propósitos – em resposta à mais importante pergunta que cada um deve enfrentar: o que Deus fez por pecadores como nós ao enviar seu Filho para morrer?
>> Autor do estudo: Vagner Barbosa
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, usado com permissão.